segunda-feira, 27 de maio de 2013

Crítica do espetáculo - Por Paulo Fontes.



BODAS DE PAPELÃO - UMA SUBLIME HISTÓRIA DE AMOR NO MEIO DO CAOS

Retratar a vida de dois moradores de rua de forma poética, é como falar de guerra sem mortes e sangue. Fazer poemas do lixo. Exaltar o sabor da carne apodrecida. Fazer um elogio a loucura de homens que vivem quase em estado selvagem. Igor Ramos e seu grupo resolveram correr o risco e apostar num espetáculo que poderia ser triste, melodramático e enfadonho. A frase de uma das personagens soa quase profética: “Na rua a gente sempre se fode”. E esse poderia ter sido o resultado da nova produção.Mas de forma surpreendente, o grupo LEVA EU, lança um delicado foco de luz sobre um pedaço escuro, cruel e violento das grandes cidades. Os dois Jovens atores, Marjóri Moreira e Igor Ramos, se fazem presente em cena e defendem com inventividade suas personagens. Entram no jogo cênico com boa troca de vivências e se amparam em suas construções. Poderiam ser mais contundentes se instigados/provocados. Estavam prontos para explodir. E se explodissem incendiariam o espetáculo. Um dedo na ferida e o grito de dor ecoaria pelo palco. Mas o caminho escolhido pela diretora Priscila Morais, foi o da delicadeza e do poético, resultando num espetáculo terno, lírico, que emociona, mas menos intenso. Menos dolorido. Um jogo amoroso quase sem dor num cenário inóspido. A ausência de um figurino mais realista, determinaria um peso mais forte as características das personagens. Destaca-se a luz bem pontuada, simples, mas de acordo com as necessidades. A magia do jornal picado se transformando em neve. O olho no olho dos atores que num jogo de palavras revelam as agruras do dia a dia dos seres que habitam as ruas. As imagens projetadas são bonitas, mas pouco acrescentam uma vez que o texto e atuações nos dizem tudo. “ A rua são os meus pés.” Grita uma das personagens. E é nítido que os atores Igor Ramos e Marjóri Moreira, pisam firme e com vontade o chão da sala 504 da Usina do Gasômetro, defendendo com dignidade e talento, o texto de Renato Mendonça que só vem a acrescentar e enriquecer a dramaturgia gaúcha. Acertou o diretor na escolha do texto. Falou de guerra sem sangue e sem mortes. Afinal viver nas ruas é travar uma guerra todos os dias. Lutar para se manter vivo. Apostou e contou SUBLIMEMENTE UMA HISTÓRIA DE AMOR NO MEIO DO CAOS. Gerou um espetáculo que provoca o riso pelo trágico.Que encanta e nos faz sentir mais humanos. E assim corre a vida, nas grandes cidades, nas ruas ou não, todos lutando para se manter vivos. Todos a procura de um abraço, um amor, um carinho. E é com carinho que a platéia recebe e vivencia este espetáculo. Bodas é a comemoração de um tempo, de um ciclo na vida dos casais. BODAS DE PAPELÃO é a representação de um novo e significativo tempo para o ator e diretor IGOR RAMOS e o todo grupo Leva Eu.

José Paulo Fontes
Ator, Diretor, Dramaturgo e Pedagogo

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